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Foto do escritorRodrigo M. Weinhardt

E-sports, sustentabilidade e meio ambiente

Atualizado: 26 de nov. de 2019

Esportes eletrônicos e a “cutucada verde” na luta contra a mudança climática

Playing for the Planet reúne principais agentes da indústria de esportes eletrônicos na luta pela pelo meio ambiente

Das boas ideias sobre esportes e meio ambiente nosso primeiro texto será inspirado em uma ação recente que marca a adesão das atividades esportivas com o meio e, não menos importante - e intrigante - aguça a reflexão sobre esporte. Não que este seja o propósito do Fair Play Ambiental, mas nosso papel torna-se mais interessante com um pouco de provocação.


Em 23 de setembro de 2019, uma bandeira batizada de “Playing for the Planet Alliance” criou a mobilização das maiores desenvolvedoras de games do planeta em um movimento pelo meio ambiente e preservação do planeta. Entre elas Sony Interactive Entertainment, Microsoft, Google Stadia, Rovio, Supercell, Sybo, Ubisoft e WildWorks. As informações originais são do movimento Playing For The Planet (LINK) e da ONU Brasil (LINK).


Conforme divulgado “a aliança pretende apoiar empresas no compartilhamento de aprendizado e no monitoramento do progresso da agenda ambiental”.


Os relatos indicam como uma iniciativa voluntária das fabricantes, já abordada em Março no documento “Playing For the Planet. How Video Games Can Deliver For People and the Environment” (LINK) – material cativante que iremos falar mais.


Ainda conforme apresentação da ONU, a medida foi anunciada em evento em sua sede, durante a Cúpula de Ação Climática do Secretário-Geral da Organização. Dentre os compromissos assumidos por 21 empresas estão: redução de 30 milhões de toneladas de emissões de CO2 até 2030, milhões de árvores plantadas, novas “cutucadas verdes” no design de jogos e melhorias no gerenciamento de energia, embalagens e reciclagem de dispositivos (LINK).


"Considerando a enormidade dos desafios ambientais que enfrentamos nos próximos anos, nós, como indústria, devemos unir forças com nossos jogadores e sermos propagadores de ação", relatou Kati Levoranta, CEO da Rovio Entertainment.


OK! Mas o que uma medida da indústria de jogos eletrônicos tem a ver com movimento de fair play, modalidades esportivas e meio ambiente?

Em termos midiáticos, os e-sports estão mais que estabelecidos, consagrados pela força monetária e contingente invejável. São hoje um evento cultural de formas e cores competitivas estabelecendo uma relação contemporânea dos meios como nossa extensão. Não somente por aspectos financeiros e de popularidade, mas também por faculdades como senso de equipe, definição de estratégias, preparo e treino, inter-relações pessoais, sentimento de vitória e de derrota e outros valores potencialmente educativos.


Mas isto não basta para encarar jogos em consoles e dispositivos móveis como esporte. Ao menos é o entendimento de boa parte da classe esportiva. Ainda este ano, a ex-jogadora de vôlei, medalhista Olímpica e senadora Leila Barros (PSB-DF), em discussão do Projeto de Lei do Senado n° 383/2017 – sobre a regulamentação de jogos eletrônicos - afirmou “que seria desonesta se afirmasse enxergar os jogos eletrônicos como esportes”, explicando ainda defender uma audiência pública para tratar o tema em razão de sua complexidade. A senadora está correta, ainda é preciso muita conversa sobre o assunto.


Todavia, mesmo na ausência de atividade física manifesta, até o COI já considerou o debate. Afinal, o crescimento e a importância social engajam milhares de crianças, jovens e adultos; contam com organização e governança e exige horas de treinos. O Comitê foi enfático quanto a preservar e respeitar aos valores olímpicos, e neste caso os jogos violentos são a maior barreira nesta aceitação. "Os chamados jogos matadores. Eles, do nosso ponto de vista, são contraditórios com os valores olímpicos e, portanto, não podem ser aceitos”, relatou Thomas Bach, presidente do COI, à Agência Press (LINK).


Pois bem: o movimento “Playing for the Planet Alliance” é o que há de mais próximo ao movimento olímpico no que diz respeito a esporte e meio ambiente. Neste sentido, nenhuma rede de esportes tradicionais promoveu um compromisso tão ousado como as 21 programadoras.


As qualidades e os números são impressionantes. “A comunidade de jogos é diversificada e cresce em ritmo acelerado. Existe uma oportunidade inegável para os líderes da indústria de jogos se posicionarem e apoiarem a equipe de meio ambiente da ONU, comunicando a importância de preservar os recursos naturais para as próximas gerações”, diz Jim Ryan, Presidente & CEO da Sony Interactive Entertainment.


Atribuir aos e-sports a categoria esportiva tira o sono de muita gente. Ainda assim, é um erro não atribuir à estas modalidades valores e princípios inerentes à disputa, competitividade, inter-relações, respeito e outras raízes, como a capacidade de formar e educar.


NA PRÁTICA


Conforme divulgação do movimento Playing For the Planet, o compromisso inclui:

Por parte da Sony: a utilização de tecnologia de eficiência energética, introduzir o modo de suspensão de baixa energia na próxima geração do PlayStation, avaliar sua pegada de carbono e o mais importante, utilizar sua aderência para educar e inspirar a comunidade de jogadores a agir sobre as mudanças climáticas.


A Microsoft segue caminho semelhante à Sony, estabelecendo metas de redução de emissões da cadeia de suprimentos em 30% até 2030 - incluindo o fim da vida útil de dispositivos - e certificar 825.000 consoles Xbox como neutros em carbono em um programa piloto. A parte instrutiva prevê envolver jogadores em esforços de sustentabilidade na vida real, por meio da iniciativa Minecraft 'Construa um Mundo Melhor'.


O Google Stadia ainda nem saiu do forno e já está na briga também. Ele produzirá um novo Guia de Desenvolvimento Sustentável de Jogos, além de financiar pesquisas sobre como as "cutucadas verdes" podem ser efetivamente incorporadas aos jogos.


A Supercell irá compensar toda a pegada de carbono de sua comunidade.


O Wild Works, do Animal Jam, já tem em seu DNA elementos bem legais sobre integração de jogos com meio ambiente. No compromisso, a Wild integrará elementos de restauração nos jogos se concentrando em restaurar algumas das florestas do mundo com as principais iniciativas de plantio de árvores.


A Ubisoft – a preferida deste autor - desenvolverá temas ecológicos no jogo e buscará materiais de fábricas ecologicamente corretas e a Sports Interactive eliminará 20 toneladas de embalagens, mudando de plástico para uma alternativa reciclada para todos os futuros lançamentos do Football Manager. Espero que a “cutucada verde” da Ubisoft seja no mesmo nível de seus games.


O ZooCraft da Creative Mobile evoluirá para um jogo focado na conservação, com a Reliance Games (Little Singham) gerando conscientização no mercado de jogos móveis que mais cresce, criando conscientização com crianças para torná-las embaixadoras da mudança climática em eventos e iniciativas em jogos na Índia. A maior plataforma independente de jogos da China, a iDreamSky, comprometeu-se a colocar estímulos verdes em seus jogos.


Como a Wild Works, a E-Line Media, Strange Loop e a Internet of Elephants compartilharão sua experiência de criar jogos de alto impacto ambientalmente orientados para o “Playing For the Planet”.


E a Twitch. A desenvolvedora se comprometeu a utilizar sua plataforma para espalhar esta mensagem para a comunidade global de jogos, com a Niantic Inc comprometendo-se a envolver sua comunidade para agir em torno de questões de sustentabilidade.


POR FIM


Estranhamente, é desta renovação cultural que surge uma narrativa tão intensa, atual e necessária sobre a responsabilidade e consumo consciente e indústria inteligente no esporte. Talvez uma das maiores revoluções esportivas em favor do meio ambiente – perceba aqui que identificamos sim os e-sports como atividade esportiva. O compromisso dos CEOs destas grandes pode ser uma jogada midiática, mas carece de acompanhamento e avaliação de resultados comprovando os interesses reais. A tarefa mais importante é a formação de um pensar sustentável.


“A indústria de videogames tem a capacidade de envolver, inspirar e cativar a imaginação de bilhões de pessoas em todo o mundo. Isso a torna uma parceira extremamente importante para lidar com a emergência climática”, afirmou Inger Andersen, Diretora Executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). "Estamos encorajados pelo compromisso dessas empresas de jogos, que mostra o reconhecimento de que todos devemos desempenhar nosso papel no esforço global de reduzir as emissões de carbono e efetuar mudanças reais em direção à sustentabilidade", complementou.

Assumir a redução energética, cuidados nas linhas de produção e iniciativas materiais na fabricação e consumo são missões audaciosas e importantes. Todavia, julgamos que a grande promessa é quanto aos estímulos verde, ou como traz o comunicado, a “cutucada verde”. As 2,6 bilhões de pessoas no mundo serão impactadas por tais ideias. O uso da força e da penetração dos e-sports é exatamente o que modalidades tradicionais ainda não adotam com a mesma vontade.


Toda modalidade esportiva é carregada de significados, transcendendo a atividade manifesta do corpo. É justamente neste alicerce do “espírito do esporte” que acreditamos possível a adesão de ensinamentos altivos. Fazer deste patrimônio humano uma ferramenta a catalisar a sustentabilidade será um entendimento maior que observar sua linha de produção ou estratégias de posicionamento de marca. Será uma mudança urgente e necessária na cultura de um desenvolvimento constante e sustentável.

Modalidade: indústria de esportes eletrônicos.

Promoção: Fabricantes.

Público: 2.6 bilhões de pessoas.


Referências



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